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 NEUZA MACHADO - DO PENSAMENTO CONTÍNUO À TRANSCENDÊNCIA FORMAL

 

 

Fechando minhas considerações sobre as perspectivas, já poderei afirmar, conscientemente, que as perspectivas dialetizada, maravilhada e a substancial infinita necessitam, no plano narrativo, da contribuição do pensamento formal. No âmbito da ficção, este plano formal do pensamento exigirá do estudioso muita atenção, uma vez que o cogito(1) (pensamento formal, linear), será sempre a base que sustentará os outros patamares dos cogitos verticais. Um texto ficcional vertical, por mais elevado ou profundo que seja, necessitará sempre da sedução das formas, do encanto que emana do pitoresco, para que possa realizar seu objetivo final: receber a atenção do Leitor.

 

Realçando mais uma vez minhas premissas, limitarei a minha proposta para um novo posicionamento crítico, brasileiro, a quatro módulos, para o desenvolvimento e fecho de meu objetivo: (a) falar do Artista ficcional Guimarães Rosa e suas faces sociais, de sua obra e matéria eleita; (b) de seu momento de repouso ativado (estado reflexivo situado num tempo suspenso entre o antes e o depois), momento de intermediação que projeta ou não o pensador para uma ascensão aos cogitos superiores; (c) abordar a problemática da psicanálise da criação (os cogitos e os elementos que marcaram a produção literária de Guimarães Rosa, além de sua própria introjeção no seu universo ficcional), problemática esta dialetizada ad infinitum pelo ficcionista, o qual não se desprende em absoluto dos cogitos dois e três, (d) mesmo constatando-se a sua familiaridade com o cogito(4) (a facilidade em transformar o ilógico em lógico, no universo da Ficção-Arte).

 

O além do cogito(3) fechará minhas elucubrações teóricas sobre o escritor e sua Obra, momento em que procurarei provar que o cogito(4), mesmo sendo um plano de difícil acesso (fora dos limites vitais, no qual poderiam ser incluídos os Loucos e os Visionários), é uma dimensão que foi alcançada, criativamente, pelos escritores brasileiros do século XX. Na impossibilidade de desenvolver um reconhecimento crítico globalizante sobre esses escritores, destacarei  um singular intérprete ficcional da realidade interiorana de Minas Gerais, Guimarães Rosa, independente das teorias que o avaliam como narrador de estórias sertanejas.

 

Para reforçar minhas convicções teóricas, as quais levaram-me a pensar e repensar a forma correta de como sustentar a defesa de meu objetivo central, contei, evidentemente, com a contribuição filosófica de Gaston Bachelard, sobre a duração e sua positividade/negatividade e vice-versa e suas providenciais argumentações sobre as matérias que compõem a vida. Além de Bachelard, assinalarei, também, as contribuições sociológicas de Max Weber e Walter Benjamim, e de outros pensadores e teóricos que preencheram, ao longo de minha vivência acadêmica, as lacunas de meu Conhecimento. Deste modo, pelo ponto de vista da interdisciplinaridade, será possível detectar tais contribuições sociológicas e, diluídas ao longo destas páginas, as contribuições de vários estudiosos da hermenêutica do texto literário, além de se apreender com clareza minha formação de base semiológica, alicerce analítico para os demais paradigmas críticos da atualidade. Todos os pensadores e teóricos que auxiliaram-me, direta e indiretamente, por intermédio de seus escritos, serão discriminados na Bibliografia.

 

Finalizando, o que se busca nesta PROPOSIÇÃO é reconhecer a escalada sócio/mental do Artista brasileiro Guimarães Rosa, nato do sertão e cidadão do mundo, aos cogitos superiores da mente. Depois do reconhecimento, passarei a evidenciar a sua incursão/excursão ao plano intermediário entre o mundo vital e o mundo espiritual e o seu retorno ao plano do cogito(3) do pensamento puro, representado, nas suas últimas fases criativas, por um discurso insolitíssimo (vazio criador), beirando os limites frágeis da sanidade.