As amazonas amerígenas 8

 

Pablo Cid (Moacyr Rosas) As amazonas amerígenas 8


AMAZONAS AMERÍGENAS E SEUS SINÔNIMOS. Têm sido também objeto de polêmica ou de pesquisa o vocábulo amazonas e os sinônimos por que são conhecidas as mulheres do famoso gineceu amerígeno. Antes de mais nada devemos salientar ser infundada a etimologia da palavra amazonas, como oriunda da língua de Homero: o privativo a e o substantivo mazôs — têta, mama, peito, ou seios, sem seio, isso porque supunham que elas sacrificavam o seio direito. Ou como querem os lexicógrafos helenistas: a priv sem e mazós — petite sem. Enquanto Chassango dá a tradução da raiz alterada: “femme privée d’un sem”. A origem e composição desta palavra é discutida por outros autores de nota. E. Littré, o notável erudito francês, é um dos que afirmam: ‘t. mot d’origine fort incertaine”. E diz mais: tôdas essas etimologias são incertas; e é possível que amazonas seja qualquer nome geográfico, ou qualquer têrmo mitológico, cuja etimologia é hoje desconhecida”. (Dictionnaire de La Langue Française).
Escutemos agora, a respeito, a opinião do notável cônego Raimundo U. Pennafort: — “Eu julgo também que êste nome vem do mesmo grego amaxon, amaxion, amacion, que significa: petit chariot (pequena berlinda) uma espécie de carro de quatro rodas de que se serviam as amazonas asiáticas” (Brasil Pré-Histórico). Vejamos agora a opinião de A. Lettere (Jesus e sua doutrina, Rio, 1934), que se apóia na autoridade ilustre de Fabre d’Olivet (Histoire Philosophique du Genre Humain) Amazonas (Ramas — Ohne) que significa — sem macho. Esta palavra compõe-se de raiz mãs em latim, maste em francês arcáico, — maschio em italiano, moth em irlandês. Ohne é a negativa de onde mas-ohne, ao que o fenício aplica o artigo ha, donde, portanto: sem macho


“A palavra Amazonas nem é de origem grega propriamente dita, nem tão pouco devêmo-la ao tal Orellana, que tudo falou de outiva. O vocábulo Amazonas, adulterado como se acha hoje, é originário das línguas americanas, que por seu turno promanam das línguas semitas ou arianas, como vamos demonstrando”. E em uma nota acrescenta o mesmo escritor: “Eu admito o fato histórico das Amazonas brasilenas, porém, com os seus nomes próprios e bem significativos de Ycamiabas, nome sânskrito, de gsamicaka, ‘ysamicábas, (de ay priv. e samikabo, sem união de sexos) ; os arianos dizem ayas-gant, ysctmodjana (sem união de sexo) donde a palavra indígena —amicuanes e Aykabeninos, do mesmo sânskrito manusa-y’akeneana, isto é, mulheres que não têm marido, que vivem sós”. (Pennafort).
Referente ao têrmo amazonas, como ficou dito em capítulo anterior, tal expressão não foi pronunciada por índio algum, como em lamentável equívoco, refere o nosso acreditado historiador Visconde de Porto Seguro ao anotar as Descrições de Maurício de Heriarte, em 1871. Aliás não fui eu o Colombo desta observação, e sim, a menos que me falhe a memória, o escritor Cândido de Mello Leitão.
É também muito vulgarizado o têrmo Icamiaba, e conjetura-se com possíveis razões, que tal têrmo foi dado a estas belicosas mulheres por motivo de seu reino estar situado à orla da Serra Itacamiaba, aliás Itacamiúua (grafia muito mais corrente) conhecida também pelo nome de Yaci-taperê (aldeia da lua), sita às margens do Rio Jamudá. Pode ser no rigor etimológico uma palavra composta de quatro desinências: ita caa meen anã (a pedra da mato sôbre a qual se entregam), a qual, sofrendo várias influências das figuras metaplásticas, se reduziu respectivamente: Itacamenaua, Itacamenaba, Itacamiaba, Icamiaba. Além daquele significado há mais o seguinte:
pedra peito de gente. Pode-se ainda decompô-la doutras. maneiras mais, a saber: Camby (icami) — leite, ana (aba) — quem, logo: leite de gente. Mas outra forma de decomposição se nos apresenta: Cama, peito (da mulher) iaba, o que se diz, logo: seio falado. O distinto naturalista patrício J. Barbosa Rodrigues (O Muyrakitã, 11 parte), que tentou provar que a civilização precolombiana descendia de outra de continente civilizado e até para o nosso discutido problema, ora à balha, encontrou uma significação idêntica a do propalado vocábulo helênico amazonas. Vejâmo-la: Ycamiaba, v-ela, cam-seio, ninão, aba-qua (pre’ posição verbal): a que não tem seio. Além destas, podemos trazer mais uma de duvidosa origem, como anteriormente vimos na transcrição que fizemos em linhas acima da autoria do cônego Pennafort.

Examinemos a outra expressão — Cunhátesecuyma (mulher sem marido), cog-mantain-secoima; ambas têm a mesma tradução e foram grafadas pelo célebre viajante e cientista francês La Condamine, na página 104 de sua monumental obra Relation d’un voyage fait dans l’interieur de l’Amerique Meridionale (Paris, 1745). Em torno do primeiro têrmo o sr. Ângelo Guido em seu livro editado pela Livraria do Globo, opina que aquêle escritor “não tenha grafado com segurança a denominação dada às amazonas pelos índios que ouviu. Talvez tivesse proferido cunhantãs-secó-imas (o grifo é meu), unia vez que secô, como recô é o mesmo que tecô, isto é, uso, costume.
É provável também que da fusão das três palavras que compõem a expressão com que eram designadas aquelas mulheres resultasse cunhãtesecuimas. Entretanto, decomposta a expressão, resultará, como já fizemos notar, mulheres-lei-sem, e não como interpretou La Condamine, mulheres sem marido, pois que marido, em nheengatú, é mena e menasaraima quem não é casado ou casada. Logo, “mulher sem marido” devia ser cuuhãs-menasara,-imas e não cunhãtesecuimas”. Aqui peço vênia ao apreciado escritor para uma pequena observação, e esta, aliás, devo ao saudoso e culto amazonólogo Dr. Octaviano de Mello, “Ita”, no fim das palavras daquele idioma é uma desinência que pluraliza; por conseguinte, aquela pluralização à portuguêsa é errônea. Bom momento para repetir aquela sentença do mestre Horácio: “Quandoque bonus dormitat Homerus”.
Coniupuiára, melhor seria cunhã-pujava ou cunhãpujara, cuja tradução é “Grandes Senhoras”. Êste têrmo foi ouvido e anotado pelo frade dominicano Gaspar de Carvajal.
Aikeambeno, na língua tamanaque, segundo afirma em Saggio di Storia Americana o abalisado padre Salvador Gili, é — mulheres que vivem sós.
Pelo visto, até aqui, a etimologia, sinceramente, não dá margem para conclusões.