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 (Desenho de Ronald de Carvalho dedicado a Fernando Pessoa)
 

7 de Outubro de 1919/2009

 
       Ronald de Carvalho 1920
 
                                                EPITAPHIO
 
    Foste infeliz?  Foste feliz?  Quem disse,
    Quem decifrou jamais o sybilino,
    O terrivel segredo do destino,
    Que fez parar teu coração, Clarisse?
 
    Dormes, agora, sob a terra dura!...
    Dormes, mas sonhas, pois em torno, tudo
    Se entreabre em florações de ouro e velludo,
    E ha mais astros no calmo azul da altura.
 
    Detem, Viajor, o passo!  Attende um pouco!
    Neste silencio ha vozes mysteriosas...
    Vê que humana expressão têm estas rosas,
    Vê que o prazer é um pensamento louco...
   
    Na vida incerta e vária, tudo passa!
    Mas, eterno será quem, um segundo,
    Derramou sobre as lagrimas do mundo
    A alma tranquilla como um céo sem jaça!
 
                                                                                                               
   Belmiro Braga
   janeiro - 1920
 
                                          Senhora Indio do Brazil
        
       Vi-a uma vez apenas.  Foi na igreja
       mais humilde e mais pobre da cidade;
       e, entre os pobres, ao ve-la, a Caridade
       vi formosa, risonha e bemfaseja.
 
       Todos se acercam d`Ella.  Este deseja
       ouvir-lhe a doce voz de suavidade,
       este os braços lhe estende na anciedade,
       aquelle outro, a sorrir, as mãos lhe beija...
 
       E Ella, nos olhos um sorriso infindo,
       abrindo a bolsa e o coração abrindo,
       em bençãos se desfaz, ingenua e bella...
 
       E. ao ve-la, dos altares resplendentes,
       mostram-se os Santos muito mais contentes
       que aquelles pobres socorridos d`Ella!...
 

Aniversario de Morte de Clarisse Indio do Brazil - 7/10/1919‏
 
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