[Galeno Amorim]

Por Galeno Amorim

Quando Denise ganhou seu primeiro livro, ela ainda era uma criança. Foi presente de uma tia. Agora nem lembra mais ao certo se era alguma data ou se havia alguma razão especial para isso. Nada disso importa. O fato é que, depois desse dia, ela nunca mais seria a mesma. Foi um caso de amor entre uma e outro.

Anita. Era esse o nome do livro em questão. Disso, passados 40 anos, ela jamais se esqueceu. Trazia uma dessas histórias dos estúdios Disney. Com belas e fartas ilustrações, que de tão bem feitas fascinaram, na mesma hora, a menina.

Já não conseguia desviar sua atenção e seus olhinhos de menina brilhavam. Até arrebatarem seu coração, foi questão de segundos. Primeiro para as fábulas. Depois... Bem, depois... para as histórias mais distintas possíveis, e para todo tipo de livro que surgisse a sua frente.

Depois daquele livro, vieram outros. E mais outros. E ela nunca mais deixou de ler. Quando chegou a hora de ir para a faculdade, a jovem ainda não conseguia tirar os livros da sua cabeça. Resolveu, então, entrar para o curso de Biblioteconomia.

Agora sim, chegaram a alertar, que ela nunca mais sairia daquele universo que praticamente a abduzira, povoando sua infância e mocidade de pura magia e beleza.

O primeiro emprego da moça foi ali mesmo, na Universidade Federal de Minas Gerais. Para cuidar de livros. E, ainda, mostrar aos futuros advogados – que chegavam não refeitos do susto que, para eles, representava o ingresso na Faculdade de Direito – que o caminho das pedras para o futuro que buscavam passava, necessariamente, por aqueles corredores de estantes.

Mas gozo mesmo foi no dia em que ela entrou pela primeira vez, para trabalhar, numa biblioteca pública. Foi lá que ela descobriu, afinal, que não podia ser uma mera guardadora de livros.

Mas, ao contrário, que sua tarefa de vida era, no fundo no fundo, banalizar o livro. Com todo respeito. E no melhor dos sentidos da palavra. Que cabia a ela, enfim, aproximar livros e leitores, reais e potenciais. Como um Santo Antônio casamenteiro dos tempos de hoje.

E é justamente isso que Denise de Carvalho tem feito pela vida afora. Metade dela passada à frente da Biblioteca Pública JK, no bairro Fundinho, em Uberlândia (MG), onde voltou a morar e vive atrás de fazer mais gente se encantar com os livros.

Não é tarefa fácil, ela sabe. Mas faz isso com alegria.

É que Denise gosta do que faz. Para ela, ser bibliotecária e mexer o tempo todo com livros, podendo ajudar a formar novos leitores, é um prazer sem fim. Uma paixão mesmo.

Para fisgar futuros leitores, ela já fez de tudo. Inventou um carro-biblioteca, que depois virou Kombi-biblioteca, e mais tarde transformou-se num ônibus-biblioteca, que faz sucesso por onde anda.

Hoje em dia ela sofre só de pensar que mais uns anos e terá que se aposentar. Até por isso, Denise não dorme em serviço. Ana Luiza, a filha, virou uma leitora e tanto. Como a mãe, a menina tem verdadeira paixão pelos livros. Mal fez dez anos e já anda falando por aí que, quando a bibliotecária-mãe parar, será ela quem continuará sua obra.

Pelo visto, essa história parece não acabar tão cedo. Ainda bem...