APENAS UMA SUGESTÃO
Em 05 de abril de 2016
(Pode ser que algumas das próximas loas, que, esperaríamos, fossem fictícias, coincidam com fatos reais).
Em vista das recorrentes intervenções dos órgãos paroquiais de trânsito - certas delas tomadas à revelia do cidadão-contribuinte ou espancando atos normativos comandados pelo Código Brasileiro de Trânsito - envolvendo o tráfego em diversos logradouros da cidade, e visando reduzir aborrecimentos, diminuir inevitáveis custos tributários gerados pela supereficiente fábrica de multas, incentivar a indústria automobilística do terceiro mundo, além de possibilitar a substituição paulatina da atual frota automotiva, a recém-criada Cooperativa Interamericana de Capitalistas, Usurários, Trotskistas e Assemelhados – CICUTA, aqui sediada, vem a público anunciar que estará abrindo licitação na modalidade concorrência internacional, para aquisição de veículos automotores que montadoras nacionais e/ou multinacionais, acaso interessadas – consideradas idôneas, aptas técnica e financeiramente, após necessário, ou não, processo burocrático -, conseguirem produzir dentro das seguintes características: denominação padrão do automóvel: bólido standard (bosta); tipo: hatch ou sedã; modelo: lançamento; duas ou quatro portas; motor até três cilindros; combustíveis: álcool, gasolina ou misto; cores: branca, bege anemia, amarelo icterícia e cinza nefrológica ou esmaecida. Justificativa para as cores claras ou quase: melhor adaptação ao clima local, uma vez que os pequenos motores, possivelmente, sentir-se-ão sobrecarregados com o acionamento do indispensável condicionador de ar. A respeito da velocidade, outra observação: por não possuir o município, onde os veículos, obviamente, deverão circular – como ir mais longe? -, segundo determinações das instituições de trânsito, nenhuma via na qual seja permitido trafegar a mais de setenta quilômetros por hora, ao bosta bastará que se adeque ou se atenha a esse limite.
Esclarecimentos adicionais aos fornecedores (se existirem), das carroças, isto é, dos veículos, objeto da licitação: dada a baixa velocidade máxima que desenvolverão, se testes específicos comprovarem que alguns modelos consumirão mais energia elétrica do que combustível carburante, deverão ser esses fornecidos com baterias sobressalentes.
Sabendo que a cidade recebe quantitativo razoável de turistas não profissionais, como participantes de eventos culturais ou comerciais, e reconhecendo que não é boa política proibir aos que, assim preferindo, utilizem em seus deslocamentos os próprios automóveis, certamente, muito mais rápidos do que os adquiridos, a licitante exige que o bosta seja dotado de extravagantes sistemas de alerta e pisca-pisca – quanto mais parecido com burra de cigano ou carro alegórico, melhor -, para não ser colhido pelos potenciais ou verdadeiros bólidos dos que a visitam.
Adredemente, a Cooperativa informa que envidará esforços no sentido de, junto à castradora municipalidade, conseguir para os pretensos usuários ou interessados adquirentes, inclusive não adeptos ou simpatizantes da CICUTA, subsídios e/ou incentivos fiscais e securitários no caso de privilegiarem um bosta. E mais: tentará, utilizando a mídia, o apoio de empresários do ramo hoteleiro, de locação e autônomos, lobistas, marqueteiros e políticos, centrar força e energia no combate à praga das multas de trânsito, seja oferecendo vantagens financeiras, seja disponibilizando bosta aos pretensos clientes, consumidores e público em geral, a fim de que experimentem.
Apenas uma sugestão: CICUTA convida interessados em bosta a se dirigirem até a sede da entidade, localizada no beco sem saída e sem número, ou acessando seu site: www.cicutaehbosta.org.br.
A propósito, o slogan oficial da organização é: “A CICUTA não é veneno, mas seu carro tem que ser um bosta”.
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afsousa01@hotmail.com)